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Entre a Espada e a Rosa – Marina Colasanti (Obra Literária para UEMA)

Marina Colasanti é uma das mais importantes autoras da literatura contemporânea brasileira. Nascida na Etiópia e criada entre a Itália e o Brasil, construiu uma carreira marcada pela sensibilidade poética e pelo engajamento social. Em Entre a Espada e a Rosa, publicado em 1997, a escritora entrega ao leitor uma narrativa densa, simbólica e profundamente reflexiva sobre a condição feminina, a liberdade e o poder.

Apesar da roupagem de conto de fadas, a obra está longe de ser uma narrativa infantil. Ela combina elementos do maravilhoso com uma crítica intensa às estruturas patriarcais e ao aprisionamento das mulheres em papéis sociais limitantes. Nesse sentido, Marina Colasanti atualiza o gênero do conto de fadas para um olhar crítico, sensível e, acima de tudo, libertador.


Um conto de fadas invertido

A narrativa de Entre a Espada e a Rosa se apresenta como um conto de fadas tradicional. Há um rei, um castelo, um jardim proibido, um cavaleiro e uma donzela. No entanto, o que poderia ser uma história de amor e heroísmo convencional se transforma em uma metáfora poderosa sobre submissão, liberdade e o despertar da consciência feminina.

O enredo gira em torno de uma jovem criada em total reclusão dentro de um castelo. Ali, cercada de luxo, flores e proteção, ela vive como uma rosa que não conhece o mundo. Seu contato com o exterior é inexistente. Tudo que sabe sobre a vida vem da voz do rei — o homem que a mantém ali como se fosse uma peça de porcelana.

Com o tempo, surge um cavaleiro que se encanta por ela e a observa do lado de fora dos muros. Ao entrar no castelo, ele também se apaixona, mas sua presença não rompe a prisão: apenas a reforça. A narrativa, então, se desenvolve entre dois polos simbólicos — a espada, que representa o poder e a violência, e a rosa, símbolo da delicadeza, da feminilidade e da passividade.


A prisão invisível e o controle simbólico

A protagonista vive presa, mas não por correntes visíveis. A prisão que a cerca é feita de palavras, de silêncio e de costumes. Ela não sabe que está presa porque nunca conheceu a liberdade. Essa condição revela um dos aspectos mais poderosos da obra: a denúncia de um sistema que aprisiona sem precisar usar a força.

A autora mostra como o controle sobre o corpo feminino pode ser exercido através da proteção excessiva, da negação do saber, da restrição do espaço. Tudo parece feito “para o bem da donzela”, mas, na verdade, é um mecanismo de dominação. Nesse ponto, Marina Colasanti toca fundo na crítica ao patriarcado, que se traveste de cuidado para manter o controle.


A figura do cavaleiro e a falsa libertação

Quando o cavaleiro aparece, a expectativa tradicional seria a de que ele salvasse a donzela. No entanto, a autora frustra esse clichê propositalmente. O cavaleiro não é libertador. Ele repete os mesmos padrões do rei. Encanta-se com a donzela, mas não oferece a ela o mundo: apenas a deseja dentro da prisão.

Esse jogo de inversão narrativa é central na obra. A donzela, que deveria ser salva, percebe que ninguém além dela pode construir sua liberdade. Nem reis, nem cavaleiros. A metáfora é clara: a mulher precisa romper os muros simbólicos por conta própria, mesmo que isso signifique enfrentar a dor da escolha, o medo do desconhecido e o preço da autonomia.


O simbolismo da espada e da rosa

O título da obra já antecipa seu eixo simbólico: Entre a Espada e a Rosa. A espada, símbolo tradicional do masculino, da guerra e da imposição, contrapõe-se à rosa, representação do feminino, da delicadeza e da fragilidade. No entanto, Marina Colasanti desconstrói essa oposição simplista.

A rosa, que parecia frágil, mostra-se resistente. E a espada, que parecia forte, revela-se apenas instrumento de poder sem reflexão. A protagonista está entre esses dois mundos, sendo empurrada ora para um, ora para outro. Cabe a ela decidir qual caminho seguirá. E essa decisão é o cerne da narrativa.


Estilo da autora e linguagem poética

Marina Colasanti escreve com lirismo e precisão. Sua prosa é breve, mas densamente carregada de sentidos. Cada imagem, cada metáfora, cada escolha de palavra colabora para a construção de um universo simbólico que envolve o leitor. A linguagem é elegante, simbólica, e carrega o peso de séculos de representações sobre o feminino.

A simplicidade formal contrasta com a profundidade temática. A autora recorre a frases curtas, vocabulário acessível e ritmo cadenciado. Ainda assim, a densidade dos símbolos exige atenção e sensibilidade por parte do leitor. A história tem poucas páginas, mas ressoa como se fosse um romance completo.


A obra como leitura para vestibulares

Entre a Espada e a Rosa aparece como leitura obrigatória em diversos vestibulares — e não por acaso. É uma obra que permite múltiplas interpretações e se conecta com discussões urgentes sobre gênero, liberdade, subjetividade e direitos humanos. Para provas como o PAES (UEMA), o ENEM e outros vestibulares nacionais, o livro oferece um material riquíssimo.

Alguns temas possíveis que podem ser abordados nas provas:

  • A representação da mulher nos contos de fadas;
  • A desconstrução do herói e da donzela;
  • A crítica à ideia de proteção como forma de opressão;
  • O uso de símbolos literários (espada e rosa);
  • A narrativa como denúncia social e instrumento de reflexão.

Além disso, a obra pode ser uma excelente referência para redações que tratem de temas como violência simbólica, emancipação feminina e desconstrução de estereótipos.


Atualidade da obra

Embora tenha sido publicada nos anos 1990, Entre a Espada e a Rosa continua extremamente atual. Em um mundo onde ainda se discutem os limites da liberdade das mulheres, o papel do cuidado como controle e a importância da voz feminina, a narrativa de Marina Colasanti ressoa com força.

A obra fala diretamente com adolescentes e jovens adultos que, como a protagonista, estão em busca de sua identidade, de sua voz e de seu espaço no mundo. É uma leitura que emociona, provoca e, sobretudo, ensina.


Conclusão: o poder de escolher o próprio caminho

Entre a Espada e a Rosa não é uma história de amor tradicional. É uma história sobre escolhas. Sobre o despertar de uma consciência. Sobre o momento em que a personagem compreende que nem o rei, nem o cavaleiro, podem decidir por ela. Somente ela.

Ao escolher entre a espada e a rosa, a protagonista escolhe a si mesma. E é justamente essa escolha — individual, simbólica e transformadora — que torna a obra uma leitura essencial para quem deseja compreender a potência da literatura como espelho e como farol.


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