Dia Internacional Contra a Discriminação Racial

Discriminação racial

Há dias que passam despercebidos. Eles não aparecem em vitrines de lojas, não ganham festas temáticas nem estampam cartazes coloridos. O Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, celebrado em 21 de março, é um desses dias que poucos comemoram, mas que todos deveriam lembrar.

É uma data que não pede festa, mas exige consciência. Um lembrete silencioso de que o preconceito continua vivo, mesmo quando não é dito em voz alta. De que a exclusão pode estar nos gestos mais sutis, nos olhares desviados, nos espaços negados.

Mas o que, exatamente, estamos combatendo quando falamos de discriminação racial? E por que, mesmo após tantas décadas de luta, ela ainda parece se esconder entre as dobras da sociedade?


A origem do dia

A Organização das Nações Unidas escolheu o dia 21 de março em memória ao Massacre de Sharpeville, ocorrido em 1960 na África do Sul. Naquele dia, forças policiais mataram 69 pessoas negras que protestavam pacificamente contra as leis do apartheid, responsáveis por segregar a população com base na cor da pele.

A escolha da data carrega, portanto, o peso de uma tragédia. E, ao mesmo tempo, a necessidade de transformação. O sangue derramado em Sharpeville se tornou símbolo de uma luta global contra o racismo, a exclusão e a desigualdade.

O mundo mudou muito desde então — mas será que mudou o suficiente?


O que é Discriminação racial ?

A discriminação racial não se resume a insultos ou atitudes violentas. Ela pode ser invisível, mascarada por discursos educados e estruturas supostamente neutras. Pode estar na ausência de pessoas negras em cargos de liderança, na abordagem seletiva em lojas, no medo disfarçado de “precaução”.

Ela também aparece nas estatísticas: menor acesso à educação de qualidade, maior índice de desemprego, salários mais baixos, maior exposição à violência policial.

E o mais inquietante: muitas vezes, esse racismo é naturalizado. Tão presente no cotidiano que já não causa estranhamento.

Será que conseguimos perceber tudo o que não é dito, mas é sentido? Tudo o que não é visível, mas pesa?


O silêncio como linguagem

Nem todo preconceito grita. Às vezes, ele apenas cala. O silêncio também discrimina. Ele exclui, nega, deslegitima.

Pessoas negras, indígenas e de outras etnias historicamente marginalizadas aprendem, muitas vezes desde a infância, a decifrar esses silêncios. O silêncio que ignora sua presença. O que muda de calçada. O que evita o contato visual.

Mas nesse mesmo silêncio, há uma força invisível. Uma resistência ancestral que, mesmo sem palavras, se recusa a desaparecer. Porque quem foi silenciado por séculos aprendeu a falar de outras formas.


O racismo estrutural / Discriminação racial

Dizer que vivemos em uma sociedade racista não é uma acusação individual. É uma constatação estrutural. O racismo estrutural se instala nas instituições, nas leis, nas práticas. Ele opera mesmo quando ninguém “pretende” ser racista.

Está na maneira como o currículo escolar omite histórias negras e indígenas. Na forma como os padrões de beleza são difundidos. Nos estigmas associados à cor da pele.

Mudar isso exige mais do que boa vontade. Exige revisão, desconstrução, escuta.É preciso coragem para encarar uma verdade incômoda: nós crescemos dentro de uma lógica excludente — e continuamos a reproduzi-la, muitas vezes sem perceber.


Identidade e pertencimento

Para muitos, crescer em um mundo onde sua cor é vista como erro gera uma ferida difícil de cicatrizar. A construção da identidade passa por aceitação, reconhecimento e pertencimento. Mas como se reconhecer em um espelho que nunca te refletiu?

É por isso que representatividade importa. Ver-se nos livros, nas telas, nos espaços de poder. Entender que sua história tem valor. Que sua cultura tem riqueza. Que seu corpo é digno.

O Dia Internacional Contra a Discriminação Racial é também sobre isso: recuperar narrativas. Reescrever histórias. Recolocar no centro quem sempre foi colocado à margem.


O papel de quem observa / Discriminação racial

Nem todos sofrem discriminação racial. Mas todos vivem em um mundo onde ela existe. E quem não é alvo direto, tem uma escolha: ser cúmplice do silêncio ou aliado da mudança.

É nas pequenas atitudes que essa escolha se revela. Corrigir um comentário racista em um grupo de amigos. Escolher conscientemente quem você ouve, lê e compartilha. Valorizar profissionais e criadores negros. Não negar, minimizar ou justificar o preconceito.

Ser antirracista é um exercício diário. E ele começa com uma pergunta honesta: o que eu tenho feito para que o mundo seja mais justo para todos?


O racismo no Brasil: um paradoxo histórico

O Brasil é conhecido por sua diversidade. Mistura de povos, culturas, cores. Mas essa riqueza cultural muitas vezes convive com uma dura contradição: o racismo velado, mascarado de cordialidade.

Frases como “aqui não existe racismo” ou “somos todos iguais” funcionam como barreiras para o debate necessário. Enquanto isso, a desigualdade racial continua a se reproduzir nos dados, nas ruas, nas oportunidades negadas.

Negar o racismo é, também, perpetuá-lo. Reconhecê-lo é o primeiro passo para superá-lo.


O que podemos fazer?

Combater a discriminação racial não é tarefa de um único dia, nem de um único grupo. É um esforço coletivo. E ele começa com ações simples, mas consistentes:

  • Ouvir vozes negras, indígenas e de outras etnias sem interromper.
  • Apoiar causas e movimentos que lutam por igualdade racial.
  • Educar-se constantemente — e educar os outros com paciência.
  • Rever atitudes, piadas, comentários e costumes.
  • Garantir espaço, visibilidade e protagonismo para quem sempre foi silenciado.

A mudança pode parecer lenta, mas cada gesto conta. E o acúmulo dessas escolhas transforma não só o presente, mas o futuro.


Conclusão

O Dia Internacional Contra a Discriminação Racial é um lembrete. De tudo o que ainda precisa ser dito. De tudo o que já foi silenciado.

Não se trata apenas de uma data. Trata-se de vidas. De histórias. De futuros possíveis.

Porque o combate ao racismo não começa com gritos. Ele começa com um olhar que não desvia, uma escuta que não julga, uma atitude que não hesita.

O silêncio sempre agiu como cúmplice da exclusão, por isso nossa voz precisa agir como aliada da inclusão.


Links de saída confiáveis

  1. ONU Brasil – Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial
  2. UNESCO – Igualdade racial e direitos humanos
  3. Geledés – Instituto da Mulher Negra
  4. Instituto de Referência Negra Peregum
  5. CEERT – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades
  6. Observatório da Discriminação Racial – Políticas Públicas